O Pix e outras inovações globais na redução da desigualdade

Por Rodrigo Piazzeta – Digitalização financeira e inclusão

Alvo recente de uma investigação por parte dos Estados Unidos, o Pix tem sido celebrado como uma das maiores inovações em sistemas de pagamento no mundo. Com mais de 160 milhões de usuários cadastrados até 2025 — incluindo milhões de brasileiros que antes não tinham qualquer relação com bancos — o sistema não apenas facilitou transações instantâneas e gratuitas, como também promoveu uma verdadeira revolução na inclusão financeira.

Mas o Pix é apenas a face mais visível de um movimento mais amplo e global: a digitalização dos serviços financeiros. O avanço dos smartphones, a disseminação da internet móvel e o surgimento de plataformas acessíveis e intuitivas têm desempenhado um papel decisivo na ampliação do acesso bancário entre as populações de baixa renda. Milhões de pessoas passaram a utilizar contas digitais para realizar pagamentos, guardar dinheiro, contratar serviços ou receber benefícios sociais. Diferentemente do modelo tradicional — baseado em agências físicas e tarifas elevadas —, a digitalização reduziu drasticamente os custos de entrada no sistema financeiro e eliminou barreiras geográficas e burocráticas que historicamente excluíam os mais pobres.

Segundo o relatório Global Findex 2025, publicado pelo Banco Mundial, 79% dos adultos ao redor do mundo possuem atualmente uma conta bancária ou equivalente, frente a apenas 51% em 2011. O salto é ainda mais expressivo em regiões subdesenvolvidas. Na África Subsaariana, por exemplo, a proporção de adultos com conta digital passou de 27% para 40% no mesmo período. Na América Latina e Caribe, o índice saltou de 22% em 2011 para 37% em 2025 — reflexo direto da expansão dos serviços financeiros digitais e da atuação de fintechs e governos na promoção do acesso.

A inclusão financeira, no entanto, vai muito além da posse de uma conta. Trata-se de garantir condições mínimas para que indivíduos possam exercer sua cidadania econômica com segurança e autonomia. Estar fora do sistema financeiro significa enfrentar obstáculos para guardar dinheiro com segurança, acessar crédito com juros razoáveis, realizar transações básicas ou receber benefícios sociais de forma eficiente.

No caso brasileiro, a integração de milhões de pessoas à infraestrutura bancária digital permitiu romper barreiras históricas impostas por tarifas, burocracia e ausência de agências em áreas periféricas. Essa transformação fortaleceu o planejamento financeiro das famílias, incentivou o empreendedorismo informal e ampliou a efetividade de políticas públicas distributivas. Para grande parte da população, o celular tornou-se sua primeira agência bancária, convertendo o simples ato de transferir dinheiro em um passo concreto rumo à autonomia econômica e à justiça social.

A digitalização financeira e a inclusão bancária não são apenas avanços tecnológicos: são instrumentos de transformação social e econômica. Ao derrubar barreiras históricas e ampliar o acesso da população aos serviços financeiros, o Brasil — com ferramentas como o Pix — oferece ao mundo um exemplo de como a inovação pública pode gerar inclusão, reduzir desigualdades e fortalecer a cidadania. Nesse contexto, qualquer tentativa de frear esse processo em nome da proteção de modelos tradicionais e oligopolizados, como vem sendo sugerido por setores norte-americanos, representa não apenas uma disputa comercial, mas um retrocesso civilizatório.

A agenda da inclusão exige, sim, regulação responsável — mas também demanda coragem para desburocratizar, abrir espaço à concorrência e colocar o interesse público à frente de lobbies privados. O Brasil tem avançado justamente porque soube combinar tecnologia, simplicidade e acesso gratuito em larga escala. Impedir que essa experiência avance — ou tentar isolá-la sob pretexto de competição desleal — é ignorar o potencial transformador da desregulamentação inteligente e da democratização financeira. O futuro das finanças deve servir à sociedade, não o contrário.

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Rodrigo Piazzeta

Economista, advogado e consultor com mais de duas décadas de experiência em análise econômico-financeira aplicada.

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